É uma grande preocupação para quem observa, analisa e tem a ousadia de criticar tal forma de ocupar os dias.
Imagine-se! Pais que são presenteados por descendência. Tanto pode ser o nacimento de um filho biológico, a chegada de uma criança adoptada, independentemente do tipo de família que, com felicidade, a acolhe.
Não reside aqui a minha preocupação! Preocupa-me, e sublinhe-se o pleonasmo, a forma como essa criança irá ser tratada.
- Se é respeitada como pessoa, amada e protegida, criada tendo em conta as suas capacidades e necessidades visando o desenvolvimento da sua autonomia, creio que será uma criança feliz, atingindo plenamente a sua cidadania;
- Se consegue sobreviver apesar das horas que os progenitores dedicam às TIC e os minutos que lhes dedicam minimamente, nas tarefas que, supostamente, contribuem para o seu bem-estar físico e psicológico, desde as refeições à higiene (sendo o sono uma das suas componentes) e o convívio com outras crianças, jovens e adultos, familiares ou amigos… já começa a preocupar;
- se os progenitores, por influência das redes sociais, APP e outros recursos das TIC, assumem que não estão à altura das suas funções como responsáveis pelo desenvolvimento das suas crias e decidem contratar técnicos, devidamente “encartados” e com CV adequado:
- um(a) chef para preparar papas, sob orientação de qualquer nutricionista;
- um(a) especialista em animação cultural para exercitar a linguagem com rimas, lengalengas, e à noite, uma canção de embalar ou, simplesmente, um a história;
- um(a) estecticista para a hora do banho, com tratamento especial do cabelo;
- um(a) designer para escolher, e planificar o uso de, roupa e calçado;
- um(a) PT que elabore um plano de toda a actividade física, do gatinhar ao andar, saltar, correr, nadar, andar de bicicleta… “que sais-je?”.
Com toda esta azáfama, os pais criam um Clube onde terão lugar reuniões para partilha de experiências educacionais e inovadoras.
E será também criado um Clube para realização de festas de aniversário ou sob outras temáticas, gerido por técnicos realizadores de eventos infantis, enquanto os pais reúnem, de novo, no seu Clube, para que as crianças sejam felizes a assistir ao desempenho do palhaço e outras experiências proporcionadas por entendidos em alegrar gente miúda.
Depois de compor o estômago com as guloseimas, talvez uma festa de pijama, para que os pais possam ter um serão e uma noite em paz!
Como diria Augusto Gil, embora na sua época o alvo de preocupação fosse bem diferente, “mas as crianças, Senhor?”.
E eu ouso acrescentar:
“E se, em vez dos pais, outros cidadãos com responsabilidade na educação seguissem por caminhos idênticos aos anteriormente criticados, sendo cada área curricular entregue a um técnico escolhido/contratado, proporcionando às crianças um contacto com um sem número de especialistas, longe do estipulado pelas regras de desenvolvimento curricular? Para mim, isto é UMA GRANDE PREOCUPAÇÃO!
