SE ASSENTA...

Não querendo auspiciar o futuro, inclino-me a colocar hipóteses face ao que o presente me proporciona.

O que assunto nada mais é que o produto do que vejo, oiço e leio. Por isso, tal como Sophia nos aconselhou, não o posso ignorar.

Num mundo em que as solicitações são inúmeras, os estímulos infindos e a vontade ou necessidade de estar na crista da onda desmesurada, resta a quem, por incapacidade de viver freneticamente, devido à idade e ao estado físico, dispõe de tempo e mania de observar o que fervilha á sua volta. Não sou capaz de encontrar o que de melhor se adeque a cada situação; só sei que deambula entre (in)credibilidade, dúvida, admiração…

Quando caminho pelas ruas, o que não faço tantas vezes quanto desejaria, não posso ficar indiferente à forma como as pessoas se vestem, sobretudo porque desde sempre esse foi um aspecto não negligenciado pela minha mãe e que continuo a seguir. Gosto de ver padrões e cores alegres, o arrojo de alguns no uso de certas peças e a forma como as combinam entre si. Não há limites para a imaginação, a criação e a utilização.

Contudo, nem sempre o que está disponível assenta que nem uma luva a quem o usa. Longe vai o tempo em que cada pessoa tinha roupas feitas à medida do seu corpo.

Actualmente, com um sem número de criadores e a proliferação das suas propostas no vasto mercado do pronto-a-vestir, para a maioria, apenas algumas peças estão ao seu alcance, geográfico e económico.

As medidas das peças aqui mencionadas, geralmente, seguem numa progressão aritmética de mais dois centímetros à largura, olvidando os seus criadores que as pessoas aumentam de volume, digamos, a três dimensões. Para não falar nas aberturas para braços e pulsos, quase inoperáveis, e até da proporção do volume do corpo e da respectiva altura.

Outra faceta é a de quem compra e usa nem sempre recorrer a serviços de, pelo menos, acertar a altura da peça com o calcanhar. Aquiles à parte, é indescritível relacionar a reacção de quem está a ver quem desfila com saias, ou até calças, qual rainha D. Amélia, no início do século XX!

Já para não falar de peças que são pensadas para que o oxigénio circule livremente ao longo do corpo, numa sucessão de folhos de largas dimensões, havendo quem as envergue como se de uma capa para os carrilhões de Mafra se tratasse.

Algumas blusas têm mangas bem alongadas, tapando até as mãos, e nelas são utilizados vários tecidos, numa onda, de tipo “é tendência”, para aproveitar/reciclar, sendo a altura do tronco ligeiramente encurtada, por oposição às mangas, complementando-se essa opção com o acrescento de uma renda ou outro tecido, franzido, qual sanefa e cortina, na janela da casa da avozinha, quiçá a da menina da capinha vermelha com capuz.

Abençoados os que, infelizmente por opção do politicamente correcto e não pelo assumir o direito à diferença ou a defesa ecológica do nosso planeta, deram início à vaga de ofertas para corpos reais, de medidas grandes, como as apelidam. “Grandes” face a quê?! Ou seja, passaram a considerar que as pessoas, ao longo da vida, têm transformações nos seus corpos, em vez de adaptar peças que, inicialmente, terão sido criadas para adolescentes esticadinhos e espalmados.

Face à produção excessiva de peças de vestuário e a sua inadequação aos possíveis utilizadores; face ao uso abusivo de recursos na indústria têxtil para o pronto-a-vestir, como irá ser o futuro de costureiros e costureiras? E aqui não estou a utilizar tratamento politicamente correcto, apenas distingo as profissões de uns e outras, embora não seja o género, mas a habilidade e competência que os permitem, na hierarquia das tesouras, agulhas e dedais!

Imagem
sem marca, tampa verde de plástico, lateral com padrões de vários retalhos; Ø10cmX13,5cm.