A SEGUIR AO DIA DE REIS

No dia 6 de Outubro de 1962 teve início a minha vida académica.

Das muitas escolas que frequentei (4 escolas primárias, 3 liceus…) a que mais me marcou foi a escola do Magistério Primário de Leiria. Porque foi aí que entrei para a primeira classe. Porque foi aí que fiz o meu curso de professora. Porque foi aí que tive o privilégio de participar na formação de futuros professores. O edifício, em si, antigo convento de Santo Estêvão, era bastante acolhedor, com um jardim interior rodeado por claustros e um labirinto de salas e escadas estreitas acolhendo salas de aula e um refeitório, para além de uma varanda comprida, virada a Sul, onde o convívio e a execução de trabalhos de grupo decorriam sem problemas.

Não me lembro da minha primeira professora, apenas me vêm à memória várias professoras estagiárias e momentos de aulas muito interessantes com experiências, histórias e alguns eventos como, por exemplo, a comemoração do dia da mãe, então a 8 de Dezembro, e o Natal.

A leitura obedecia ao cumprimento do manual adoptado, e único em todo o país, “O Livro da Primeira Classe”.  O lobo da história do Capuchinho Vermelho serviu para que as professoras apresentassem as primeiras letras, o “i” e o “u”. Não recordo o ritmo a que cada letra era apresentada, mas não esquecerei que no primeiro dia de aulas do segundo período, a 7 de janeiro, já trazia estudada, dos TPC das férias, a primeira lição com “letras pequeninas”, “A dona de casa”! Contas feitas, interiorizei o processo de decifração com alguma rapidez, a capacidade de ler textos com caracteres de tamanho cada vez menores, face aos utilizados para a iniciação de cada letra, deu-me confiança e, sobretudo, vontade de ler, ler, ler…

Os textos do manual, obedecendo à política vigente e doutrinando os cidadãos desde a sua infância, centrava-se em valores morais da Igreja Católica e, sobretudo, divisão de tarefas e acesso a lugares na sociedade, separando cada género: a rua para os homens, a casa para as mulheres, simplificando! O texto da Emilita, que se enquadrava neste cânone, marcar-me-ia de tal forma que, ainda hoje, quando cumpro as minhas tarefas domésticas, a bem da saúde familiar, ainda sinto relutância ao limpar o pó às cadeiras!

Imagem
Lata de biscoitos de manteiga; Casinha de 1.º andar, neve no telhado; laterais paredes de tijolo c/ cenas do quotidiano; 7,5cmx 5,5cmx 19cm.