Durante os verões da minha infância, época de fartura de legumes e fruta, após as grandes limpezas da casa, dava-se início à confecção de conservas caseiras, de legumes e fruta, para encher a despensa de provisões para os dias de chuva. Calda de tomate, picles, compotas e geleias, marmeladas e licores. Tudo organizado em frascos de vidro, sobretudo, potes e tigelas de cerâmica, com etiquetas preenchidas de caligrafia esmerada, dava gosto ver.
Atualmente, a possibilidade de encontrar uma vasta variedade de alimentos ao longo do ano, ignorando a sazonalidade dos produtos da região em que vivemos, a forma de conservar foi evoluindo de acordo com as necessidades do transporte, de forma a preservar a qualidade ao longo da viagem, tendo em conta também o meio de carga utilizado.
Alguns produtos continuam a viajar em contentores de vidro, outros em pacotes de papel, cartão ou plástico e, uma maioria significativa, em latas. O processo de conservação em embalagem metálica tem origem no início do século XIX, tendo desempenhado um papel de extrema importância durante períodos de guerra, por ser de fácil transporte e de grande segurança no que toca à higiene alimentar.
Criadas para guardar e transportar determinados produtos em segurança, houve, inicialmente, a preocupação da utilidade e, provavelmente, economia nos formatos a construir. Latas cilíndricas ou em forma de paralelepípedo foram dando lugar a novos formatos para, além do seu papel, poderem tornar-se objetos agradáveis à vista. A evolução destas embalagens tem sido extraordinária e a criatividade, pressionada pela concorrência nos sistemas de marketing, leva-nos a admirar e guardar alguns exemplares.
As latas de chá foram as primeiras que não consegui deixar ir embora...
Posteriormente, fui guardando as das bolachas e dos bombons, outras foram chegando, por oferta ou até por aquisição, sem dar importância ao conteúdo: o objeto por si mesmo!
E assim, com tanta lata, surgiu a ideia de dar azo a duas formas de partilhar imagens e ideias. Tantas latas que fui guardando merecem ser divulgadas, pela diversidade de formas, funções e origem; “tanta lata” é a forma como decidi contar as histórias que cada uma traz ou evoca.