Quando chegava a altura de visitar as minhas avós nunca faltava no conjunto de miminhos um pacote de café. De mistura, adquirido numa loja da especialidade que, em grandes sacos, dispunha de vários lotes vindos das diversas origens geográficas. O cheiro que aí existia era deslumbrante. Cada loja, além dos cafés, facultava também chás, importados de diferentes países embora o Likungo, de Moçambique, fosse o mais conhecido, e ainda toda a parafernália de acessórios para servir tais bebidas: bules, cafeteiras e máquinas variadas para satisfazer o gosto dos apreciadores.
Frequentar cafés era, na minha meninice, um acontecimento esporádico, acontecendo, sobretudo, aos fins-de-semana. Existia a separação entre o café, geralmente frequentado por homens, e a pastelaria, mais frequentada por senhoras e crianças. Feito o pedido das bebidas, habitualmente, chegava à mesa também um prato de bolos, e os clientes serviam-se da quantidade desejada, pagando pelo consumo. Eram devolvidos os restantes bolos. Hoje em dia, custa a creditar em tais práticas alimentares…
Nos bairros de Lisboa, existiam as célebres leitarias de bairro, onde se comprava manteiga, o leite em garrafas de vidro, e, mais tardiamente, iogurtes, também em frascos de vidro. Serviam uns galões com um aroma único acompanhados de um pão com manteiga que, quem teve a oportunidade de provar, dificilmente se esquecerá.
Com a revolução de 74 os hábitos mudaram. Passei a frequentar cafés com amigas e amigos. Mais tarde, enquanto fiz o curso do Magistério Primário, era nos cafés que estudávamos. Horas sem fim… o que fez com que ainda hoje uma bica, um garoto, um galão, enfim, qualquer bebida com cafeína seja consumida, na maioria dos casos, de pé, ao balcão! Passei a apreciar o café feito em casa. O facto de o mercado proporcionar condições de acessibilidade a todo o tipo de máquinas ou utensílios para preparar as bebidas e ainda as diferentes variedades de café, chá e chocolate também facilitam tal opção.
