Ambicionado mais que nunca, este ano de 2021 chegou com uma triste notícia: a morte de Carlos do Carmo. Personalidade de proa no universo da cultura e, mais concretamente, na divulgação do fado era, de facto, um ser extraordinário. De um respeito imenso pelo outro, com uma relação, simultaneamente, emocional e racional com a vida, foi preparando a sua saída de cena com serenidade, nunca esquecendo que a vida é efémera. Apesar de ter sobrevivido a vários contratempos que puseram em risco a sua sobrevivência ia encarando o seu percurso como um poeta, com “asas e garras de condor”, como proferira Florbela Espanca.
Toda a vida tem em si um fim. A perda de alguém afeta-nos sempre. Com dor, pela ausência repentina de quem gozava de boa saúde, ou com alívio, quando o sofrimento termina. A forma como exteriorizamos cada perda é de foro íntimo, embora durante muito tempo fosse necessário expressá-lo, de forma mais ou menos explícita, para que a sociedade aprovasse os sentimentos revelados nessa demonstração. A despedida, outrora permitindo longos cortejos de familiares, amigos e simpatizantes, deu lugar a cerimónias mais discretas e menos concorridas, devido a factos de natureza sanitária, chegando mesmo a pôr em causa a forma singela de homenagear quem nos deixa.
Tratada como tabu e, por vezes, camuflada, a morte foi retomando o valor que representa em qualquer percurso de vida. Aceite e valorizando cada ser, prestam-se as homenagens possíveis e valorizam-se os feitos de cada um. Ninguém será recordado por todos mas sobreviverá sempre a memória de alguém para aqueles que foram marcados pela sua presença ou pelo legado que deixou. Assumir o fim é, também, uma forma de nos aceitarmos e lidar com os outros com maior serenidade.
